Margarita: filme e poesia. Qual a relação com o trabalho do Experimentalismo Brabo?

MARGARITA from HAMPA STUDIO on Vimeo.

Uma reflexão sobre Margarita

Texto de Ubirajara Rodrigues

O bacana do filme Margarita (baseado na poesia de Rubén Darío) é que ele leva o observador a criar uma argumentação própria, seguindo uma linha de raciocínio livre. Margarita esforçou-se pra conseguir a estrela no topo da montanha. Isso é importante, ela teve iniciativa própria, desenvolveu uma estratégia própria. A fada fez o papel do justo, mas no oposto da justiça brasileira, que atua bem distante do procedimento desta. A estrela estava lá pra ser alcançada por quem realmente aceitasse escalar o temeroso e abismático penhasco, um enorme desafio. Muito bom esse filme, e dá pra fazer um debate legal!

Os vaga-lumes são consciências intermediárias, que na verdade me parecem representar uma energia vinda da menina, é o poder pessoal dela, aguçado… Os vagalumes são fluídos energéticos gerados na própria pessoa. Como podemos alimentar esses vaga-lumes? Bom, de um certo modo isso já acontece, mas de maneira ainda diminuta. Todos que de uma certa maneira atuam na comunidade com arte já faz esse papel só que tem que haver maior consciência dessa ação em função de um objetivo maior, que é também algo de teor de classe. A coisa também passa pelo étnico.

Este é um assunto muito complexo, devido uma série de fatores que interessam para acontecer o que hoje se assiste, infelizmente, entre as crianças: é muita intriga e banalidade comportamental; isso é quase generalizado. Até na música, na dança… tudo está tomado de banalidade e sexualidade exacerbada entre as criança, infelizmente. A maioria, principalmente, das crianças faveladas, perderam a sensibilidade infantil, acham babaquice conto de fadas e mesmo palavras bonitas, gestos bonitos, gentileza, colaboração…

Claro que existe uma consciência obscura por detrás de tudo isso. É sistemático, interessa, sim, a esse tipo de sociedade que está estabelecida no Brasil: é uma situação monstruosa devido a sutileza empreendida para que tudo aconteça com por acaso, por força das circunstancias. É é um sistema perverso, demagogo e frio. Para esse sistema, o povo é encarado como párias.

Temos que mergulhar nisso de forma compreensível para o povo, descodificando os parâmetros que fundamentam a sutileza. Temos que fazer um esforço muito grande para que a população saia dessa letargia. Em Manguinhos, o Ecomuseu tem um papel fundamental nessa luta. Tem que se desenvolver trabalhos específicos nessa linha; inclusive as pessoas tem que pesquisar mais sobre essa realidade; pois há um grande despreparo de muita gente quanto esse assunto mais profundo. Isso engloba vários aspectos: psicológico, político, social, psíquico, antropológico, econômico, teológico, etc mas , junto tem-se as pontualidade de ações teatro, música, literatura…

Essa é uma luta muito árdua e de demorada solução, que pode demorar até séculos. Tudo isso é muito interessante. Tem aspectos pouco comentados da situação, e, que o sistema sabe, e planeja sempre para manter a hegemonia de classe no Brasil, que nas entrelinhas parece sistema de castas. As favelas tem que formar para atuar: filósofos, historiadores, psicólogos, antropólogos, formar pessoas pensantes pra influenciar no tecido psicossocial do país. Isso tem muito a ver com o jogo do poder, do domínio…crianças pobres não podem sonhar em ser nada que é de acesso das crianças das chamadas classes dominantes; por exemplo, nossas crianças não podem sonhar em ser médicas, escritoras, artistas plásticas, presidente do Brasil, governadores. Esse tipo de atravanco tem que ser denunciado de modo objetivo através de ações artísticas culturais, etc.

Ubirajara Rodrigues - foto: Bianca Mota

Ubirajara Rodrigues – foto: Bianca Mota

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